sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Libertação - Abolição Animal











O poder do raciocínio ético pode sobrepor se aos interesses da nossa espécie.


O que nos interessa é evitar o sofrimento e os maus tratos; que nos opomos à discriminação arbitrária; que consideramos errado infligir sofrimento desnecessário a outro ser, mesmo não sendo esse ser membro da nossa espécie; e que acreditamos que os animais são explorados de forma impiedosa e cruel pelos humanos, e queremos que tudo isto seja alterado.

Seria um erro trágico que mesmo apenas uma pequena seção do movimento de Libertação Animal tentasse alcançar os seus objetivos ferindo pessoas. Alguns crêem que aqueles que fazem os animais sofrer merecem que também os façam sofrer. Não acreditamos na vingança, mas, mesmo que acreditássemos, esta seria uma distração prejudicial à nossa tarefa de fazer cessar o sofrimento. Para o fazermos, é necessário mudar as mentes das pessoas da nossa sociedade. Podemos estar convencidos de que quem pratica a violência sobre os animais é completamente mau e insensível, mas nós próprios desceremos a esse nível se ferirmos ou ameaçarmos ferir essa pessoa. A violência apenas gera mais violência isto é um lugar comum, mas a sua verdade trágica pode constatar se na meia dúzia de conflitos que se desenrolam neste momento no mundo. A força do argumento a favor da Libertação Animal reside no seu compromisso ético: ocupamos um território moral elevado abandoná lo será fazer o jogo daqueles que se opõem a nós.

O retrato daqueles que protestam contra a crueldade para com os animais como "amantes dos animais", sentimentais e emotivos, teve como consequência a exclusão de toda essa questão do nosso tratamento dos não humanos do debate político e moral sério. É fácil ver porque fazemos isto. Se considerarmos seriamente a questão, se, por exemplo, virmos de perto as condições em que os animais vivem nas explorações pecuárias modernas que produzem a carne que consumimos, podemos sentir nos pouco à vontade em relação a sanduíches de presunto, à carne assada, à galinha frita e a todos os ingredientes da nossa dieta que preferimos não considerar como animais mortos.

A alternativa à via da violência é prosseguir o caminho dos dois maiores e, não por acaso, melhor sucedidos líderes dos movimentos de libertação do nosso tempo: Gandhi e Martin Luther King. Com uma coragem e uma determinação imensas, eles defenderam sempre o princípio da não-violência, apesar das provocações e, frequentemente, dos ataques violentos dos seus opositores. No final, tiveram sucesso porque a justiça das suas causas não pôde ser negada, e o seu comportamento tocou mesmo aqueles que se lhes tinham oposto. Os malefícios que infligimos às outras espécies são igualmente inegáveis, uma vez vistos com clareza; e é na justeza da nossa causa, e não no medo das nossas bombas, que residem as nossas possibilidades de vitória.

Hábito. Esta é a barreira final que o movimento de Libertação Animal enfrenta. Hábitos não só dietéticos, mas também de pensamento e linguagem, que têm de ser postos em causa e alterados. Os hábitos de pensamento levam nos a rejeitar as descrições de crueldade para com os animais, considerando as emotivas e destinadas apenas a "amantes dos animais"; ou, se não isso, fazem nos crer que, de qualquer forma, o problema é tão trivial em comparação com os problemas enfrentados pelos seres humanos que nenhuma pessoa sensata gastaria com ele tempo e atenção.
Peter Singer

Libertação Animal




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